segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Sai Paraguai, entra Venezuela



Anderson Nunes Pacheco*

Quem acompanha os noticiários brasileiros, está ciente da suspensão do Paraguai e da entrada da Venezuela no bloco do Mercosul e sabe da importância deste fato para o cenário das relações da região, porém é necessário analisar os fatores que precederam estes acontecimentos. A saída do Paraguai se deu por aspectos políticos, onde o estopim foi o impeachment  do presidente Fernando Lugo, já a Venezuela conseguiu o tão buscado ingresso no bloco devido, principalmente, ao seu crescimento econômico na última década.
A última cartada do presidente Hugo Chávez para a Venezuela ganhar notabiidade no cenário internacional foi um grande projeto habitacional nas proximidades da capital Caracas. Seria um condomínio fechado, obra executada por uma empreiteira cubano-venezuelana. Um conjunto habitacional com aproximadamente 1,1 mil apartamentos e 20 mil unidades habitacionais, obra que tem previsão de conclusão para 2018 e terá um impacto muito positivo em milhares de famílias de classe baixa, onde Chávez não tem muito apoio.
Além disso, é importante lembrar do seu principal elemento da economia, que seria o petróleo, sendo, a Venezuela, o quinto maior exportador de petróleo do mundo e com uma das maiores reservas. Até  1976, a exploração do petróleo era privada e controlada, principalmente, por empresas norte-americanas . Com a alta do petróleo depois da crise de 1973, o então presidente Carlos Perez  passa essa atividade para estatal em 1976, criando a PDVSA – Petróleo da Venezuela S.A, sem atrapalhar as multinacionais, pois o refinamento e comércio internacional ainda estava na mãos do setor privado. Quando a cotação do petróleo caiu, a partir dos anos 80, a inflação deu um salto de 7,4% anuais em 1978 para 103% em 1996. O juro das dívidas passou a ser 30% do orçamento nacional. O PIB per capita, descontando a inflação, caiu quase 19% entre 1978 e 1998.Sendo assim, quando o atual governo assumiu o poder, tinha em mãos um país com a economia em baixa e uma população revoltada. Logo que assumiu a liderança do país, Hugo Chavez explodiu com o sistema que operava na Venezuela tendo o apoio da maioria política e população. Com isso, os setores mais conservadores tiveram uma queda de popularidade. Em 2001, o presidente sentiu-se forte para deslanchar seus projetos que foram a lei de terras e de hidrocarbonetos que aumenta o impostos das companhias privadas e o controle do governo sobre o setor privado.
O governo Chavez também é notado por várias entidades como ONU, GINI, entre outros, pelos suas políticas sociais em prol da população e crescimento do pais como um todo. Estes fatores influenciaram as lideranças do Mercosul que passaram a considerar e, por último, colocar em prática o ingresso da Venezuela no maior bloco econômico da América do Sul.
Em 2001, a Venezuela tenta pela primeira vez seu ingresso no bloco do Mercosul, com o protocolo assinado por todos os países membros. Na sequência, passou pelas as aprovações dos Congressos de cada país, ficando apenas dependente do Paraguai. A impressa marrom coloca o presidente Hugo Chávez como o maior empecilho para as pretensões venezuelanas, devido às suas ideias peculiares e inimizades políticas.
Além do potencial energético e econômico, a entrada da Venezuela no Mercosul será importante para colaborar na intenção do bloco em manter os Estados Unidos com pouca influência na América do Sul, desafiando a hegemonia norte-americana no continente e garantindo uma maior autonomia do bloco na região.

*Anderson Nunes Pacheco é acadêmico do curso de Relações Internacionais - Unisul - Tubarão.

domingo, 21 de outubro de 2012

As ilusões de Norman Angell

Renato Brandão Welter¹


     Ralph Norman Angell Lane nasceu em 1872 em Croydon, próximo a Londres. Aos 17 anos emigrou para os Estados Unidos, onde chegou a trabalhar como carteiro, agricultor, vaqueiro e repórter. Aos 26 anos, em 1898, voltou para a Europa onde passou a trabalhar como jornalista. Em 1910, publicou a obra “A Grande Ilusão”, na qual ele põe em cheque uma das mais antigas tradições do homem: a guerra. Na obra, ele criticou as políticas do período, onde as ideias de nacional-militarismo e o equilíbrio do sistema internacional através da corrida armamentista e o equilíbrio de poder² eram predominantes. Dentro deste contexto, criticou diretamente as ideias de pensadores da época, como Frederick Harrison, o qual ele cita em sua obra.
     A ideia principal do seu terceiro capítulo, sobre o qual dissertarei aqui e que leva o mesmo nome do livro, é de que o comércio internacional seria afetado pela guerra entre os Estados do sistema internacional prejudicando todos os envolvidos, inclusive os “conquistadores”. Segundo ele, a ideia de que a conquista territorial trará bem-estar, riqueza e prosperidade à nação conquistadora é uma falácia, uma ilusão de ótica, e que esse pensamento é uma ameaça à civilização. É uma ilusão porque, segundo ele, as despesas que um Estado contrai ao empreender uma política imperialista sobre outro Estado, e, posteriormente, com a manutenção do território excedem os ganhos e supostos “lucros” que obter-se-iam. Ora, para o inglês, é impraticável uma nação destruir ou prejudicar permanentemente o comércio de outra nação, pois estaria prejudicando o seu próprio³. Por razões semelhantes, a imposição de tributos e a cobrança de indenizações altas são inviáveis economicamente, pois, prejudicando uma das partes, prejudicar-se-iam os dois. Assim, um invasor só aceitaria tal prejuízo com
o fim de punir o inimigo com prejuízo semelhante por possíveis questões de ressentimento e revanchismo.
     Angell afirma que é impossível apossar-se do comércio exterior de outro país por meios militares. Não se pode eliminar a competição, mesmo a de um Estado anexado. Pelo contrário, a competição só aumentaria, uma vez que a nação conquistada passaria a fazer parte do regime aduaneiro do conquistador, eliminando barreiras alfandegárias e, deste modo, obtendo vantagens no comércio. 
     Além disso, o autor afirma que a riqueza, o bem-estar e a prosperidade de um Estado não estão atrelados ao seu poder político. Pelo contrário, o comércio de pequenos países como Suíça e Holanda, por exemplo, superam o das grandes nações em termos per capita; já a Grã-Bretanha não se prejudicaria com a perda de suas colônias, pois deixaria de empenhar custos com a defesa dos respectivos territórios. Angell se refere à conquista dessas colônias como “projeto econômico estéril”. Resumindo, o autor afirma e salienta o que já foi dito: a única conduta possível para o conquistador é deixar a riqueza de um território em mãos de seus habitantes e que o aumento da riqueza através da expansão territorial é uma ilusão.
     Com base nessa reflexão, Angell deduz que as políticas de equilíbrio de poder predominantes na época não tinham qualquer fundamento em relação à prosperidade econômica dos Estados visto que países pequenos e desprovidos de forças militares poderosas desfrutavam de economias fortes e equilibradas; e que a força militar aliada com a força política, extensão territorial, etc., pouco influenciam na economia de um Estado. 
     No capítulo seguinte, o jornalista aborda outra ilusão cultivada por muitos pensadores: o das indenizações. Ele critica um balanço no qual a Alemanha teria lucrado 174 milhões de libras esterlinas na guerra contra a França em 1870-1871. Segundo ele, esse balanço teria deixado de levar em conta uma série de fatores com a implementação de um exército adicional que ficou ativo durante quarenta anos, e que, nesse período, já adquiriram toda a indenização da Alemanha adquirida na guerra. E ainda salienta que, dez anos após a guerra, a economia francesa se encontrava em melhor situação do que a alemã. Em consequência desta guerra, toda a Europa se prejudicou, principalmente, a Alemanha e não a França, como se pensava.
     Em outra consideração sobre as indenizações, no que diz respeito às dificuldades práticas em transferir grandes quantias de dinheiro por outros meios senão os mecanismos das operações comerciais, especialmente no contexto do protecionismo, Angell diz: 
     “Na realidade, vistas as coisas à luz da hipótese protecionista, o recebimento de uma indenização tem efeitos desfavoráveis para a ação que a recebe. Se o dinheiro recebido, sob qualquer forma, permanecesse no país, segundo a expressão protecionista, está claro que os preços se elevariam em proporção ao aumento bruto da relação existente entre o dinheiro e os artigos de consumo, e o país se encontraria em posição desfavorável para exportar, isto é, para competir com outros países no comércio internacional. E, se o dinheiro for gasto no exterior, os produtos assim adquiridos vão competir com a produção nacional” [p.70-71].
      Portanto, o montante de dinheiro que o país receber com a indenização causará uma inflação, ou seja, uma elevação dos preços que diminuirá a competitividade dos produtos nacionais no exterior. Foi o que aconteceu com a Alemanha, que teve mais problemas econômicos ao receber a indenização da França.
     Norman Angell propôs uma visão das relações internacionais de uma forma nunca analisada anteriormente. Sua obra é encharcada de premissas liberais e interdependentistas, uma vez que defende a tese de que a guerra é inviável e que todos os elementos nela envolvidos seriam prejudicados, sendo que o comércio cada um depende do outro. Apesar de o texto ser demasiadamente repetitivo, Angell abarca bem suas teorias com fatos concretos da época tomando como exemplo, principalmente, uma comparação entre Alemanha e França nos séculos XIX e XX e ainda expõe trechos de obras de alguns autores e as refuta usando como base, quase sempre, exemplos recentes das economias franco-germânicas. Em suma, para Angell, a guerra promoverá somente problemas militares, sociais e financeiros, tanto para vencedores quanto para perdedores, o que a torna totalmente inviável e inútil. 
     É uma obra de suma importância para a formação intelectual, principalmente para acadêmicos iniciantes, mesmo com a predominância do realismo nas relações internacionais. O que me instigou nesta obra foi o “tapa na cara dos realistas” e a visão polêmica que foi exposta. A predominância liberalista e os pontos levantados por Angell são apresentados de tal modo, que instiga o leitor à pesquisa, ao questionamento da visão realista. Sua importância para a composição intelectual do acadêmico/cientista é irrefutável, e pode, numa visão (muito) liberal, influenciar a formação de diplomatas e direcionar atores internacionais e suas políticas a caminhos diferentes dos atuais e, assim, escrever uma nova história. 


¹ Renato Brandão Welter é acadêmico de Relações Internacionais pela Faculdade Anglo-Americano de Caxias do Sul (FAACS).
² Esse período também ficou conhecido como a “paz armada”, com o surgimento de armas cada vez mais sofisticadas e com a instauração do serviço militar como prática universal.

³ Nota-se, aqui, a denotação de características interdependentistas, corrente de pensamento que ganhou maior força nos anos 1990.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

III Semana Acadêmica de Relações Internacionais UFSM



Para dúvidas ou maiores informações favor entrar em contato:
IIISARI.UFSM@hotmail.com, junior_bourscheid@hotmail.com ou
brunatoso@hotmail.com.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Crescimento controlado



Joao Marcos Pereira Soares

As perspectivas de crescimento da economia brasileira para os próximos anos foram reduzidas, se comparadas aos anos anteriores, onde o país viveu um momento de emergência no cenário econômico mundial.
A crise mundial que atinge sobretudo a Europa e os Estados Unidos e vem se alastrando desde 2008 reflete no Brasil que, em um primeiro momento, conseguiu lidar bem com a situação depressiva e continua lutando para que não sofra com problemas tão graves como os enfrentados pela Europa, onde o desemprego sobe quase que na mesma proporção que as taxas de crescimento econômico despencam.
Segundo dados de maio da Pesquisa Focus, divulgados pelo Banco Central, a expectativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) para 2012, caiu de 3,20% para 3,09%. Para 2013, no entanto, a Pesquisa surpreendeu e apontou uma taxa de crescimento do PIB de 4,50%, contrariando os 4,30% anteriores. A mesma pesquisa divulgou uma expressiva diminuição na projeção para o crescimento da indústria em 2012, despencando de 1,94% para 1,58%. Já, para 2013, os índices seguem no mesmo sentido do PIB, com um aumento de 3,95% para 4,20%.
A fraca demanda global recorrente das recentes crises financeiras e da piora da crise da dívida europeia dificulta o movimento da indústria no Brasil. O próprio governo reconheceu que a economia do país começou o ano mal e por isso tenta medidas para conter a desaceleração do crescimento (R7, 2012).
A alta recente do dólar acompanhou a aversão ao risco observada nos mercados acionários internacionais. A partir da situação inicial de subida do dólar, os investidores aproveitaram para pressionar a moeda para índices elevados visando observar a atuação do Banco Central no mercado de câmbio.
Com o alto índice que o dólar alcançou nas últimas semanas, a taxa de câmbio prevista pela Pesquisa Focus para o fim de 2012 subiu, com o dólar comercial valendo R$ 1,90 ante o valor de R$ 1,85 esperado até então.
Segundo o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, “a situação da economia internacional se agravou nos últimos meses, demonstrando que a estratégia de austeridade fiscal adotada pelos países europeus não deu certo, pois não foi acompanhada de estímulo econômico”. A nova crise financeira já está afetando o mundo inteiro, porém o governo acredita que o país entra ainda mais forte do que durante a depressão enfrentada em 2008 para manter a estabilidade de crescimento e a baixa taxa de desemprego.
Para manter o crescimento econômico nos próximos dois anos, em um cenário depressivo, o governo federal vem anunciando medidas que facilitam o crédito, reduzindo juros e estimulando as exportações, para que a economia continue em movimento e o Brasil siga com o crescimento econômico.
No entanto, a presidente Dilma Rousseff continua afirmando que, além de proporcionar o desenvolvimento do país, deseja também o desenvolvimento da população, lutando por melhores condições sociais para os pobres e classe média, principalmente em relação é educação e saúde.