Cleber Mafioletti*
A
real origem da palavra troika é russa, a qual os russos na
antiguidade usavam para denominar uma espécie de carroça com três cavalos lado
a lado. Trazendo o termo para as questões políticas podemos identificar a troika como uma aliança de três
personagens do mesmo nível e poder, que se reúnem em um esforço único para a
gestão de uma entidade ou para completar uma missão.
O termo troika foi muito utilizado no século XX para classificar algumas
alianças feitas na década, mas foi em 2010 que o termo ganhou extrema
notoriedade no cenário internacional, devido à instabilidade que um dos principais
blocos econômicos do mundo – União Econômica Européia – foi atingido pela crise
mundial, que se alastra por diferentes blocos e países desde 2008. Assim,
ocorreu uma tentativa de negociar medidas de resgate financeiro nos países do
bloco, sendo constituída uma tríplice aliança por responsáveis da Comissão Européia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, empregando medidas de austeridade
nos países europeus mais afetados: Grécia, Irlanda, França, Espanha, Itália e Portugal.
As medidas de austeridade significam rigor no
controle dos gastos, e são requeridas quando os gastos públicos de determinados
países são considerados insustentáveis. Esses mecanismos de austeridade são
basicamente utilizados como garantia de recuperação das economias fragilizadas
– principalmente após os efeitos turbulentos sobre o setor privado, que
consequentemente reduziu em grande escala a arrecadação de impostos. Tais
medidas surgem como garantia do “sono” de muitas instituições – como o Fundo
Monetário Internacional, um dos principais financiadores das economias em
situação de crise na União Europeia.
Entre as principais medidas fiscais adotadas
pela troika, destaca-se na maioria
dos países o aumento gradual dos impostos e os cortes orçamentários de setores
que são primordiais para a sociedade, como na saúde e educação. Tais medidas
não são vistas com bons olhos pela população afetada, se tornando assim totalmente
impopulares, já que acarreta no corte de oferta de serviços públicos, aumento
da idade para requerer aposentadoria e reduções salariais para aposentados e
funcionários públicos.
O número de manifestações contra as
instituições que compõem a troika cresce
cada dia mais, ganhando força com seus movimentos – nem sempre pacíficos – nas
principais capitais europeias afetadas pela crise, principalmente em países
como Espanha, Portugal e Grécia, consequentemente os que mais sofreram com
adoção das medidas de austeridade. Um dos mais afetados na questão do
desemprego foi à Espanha, onde a taxa de desemprego alcançou o nível recorde de
27,2% da população, sendo que aproximadamente cerca de 40% é maioria jovem.
O que resta saber é se essas medidas estão
verdadeiramente obtendo bons frutos nas economias afetadas pela crise, ao que
tudo indica o desemprego cresce cada dia mais, e o desenvolvimento dos países
está em ritmo de desaceleração. O atual presidente da França, François
Hollande, indica que as medidas de austeridade trazem um caráter de
autodestruição para os países que as adotam, pois as mesmas causam uma grande
redução da demanda interna por produtos e serviços, devido à preocupação do
consumidor com a restrita oferta de empregos e redução dos salários.
Diversas notas saíram nos principais
tabloides internacionais no mês junho devido ao reconhecimento por parte do
Fundo Monetário Internacional de que a austeridade empregada nos países não
está sendo eficaz na reconstrução das economias em questão. Muitos especialistas
europeus já apontavam desde o inicio da crise que os cortes públicos drásticos
causariam um impacto muito grande, causando manchas difíceis de extrair na
estrutura econômica do bloco, e indicam que para chegar a um patamar de
estabilidade é necessário um paralelo entre consolidações fiscal e
desenvolvimento – completamente focado no desenvolvido de emprego e renda.
Os rumos de todo bloco e principalmente dos
países mais afetados com a crise continua num clima de incerteza em suas
economias. Os pacotes de resgate aprovado pelas instituições financeiras
demostram que não são suficientes para obter uma real solução para crise, mas
servem como medida provisória já que as instituições financeiras não encontram
uma solução efetiva para tal problema, que consequentemente vem afetando
diversas economias do mundo inteiro.
Enquanto isso o povo utiliza da ferramenta
que dispõe: seu simples, gratuito e persistente grito de revolta.
(*) Graduando do curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina.
Qual seria a alternativa para reestruturar estados quebrados sem cortar gastos? Cobrar mais impostos de uma população já exaurida? Agora, o que cortar é que deveria ser o foco... Evidentemente que cortar gastos em saúde e educação não é nada prudente, mas e quanto às aposentadorias especiais, plano de previdência obrigatório do setor público, planos de carreiras, cargos de confiança, manutenção de exércitos e soldos dos oficiais e soldados em tempos de paz e dentro de uma comunidade econômica? Eu, sinceramente, gostaria de saber quais são as alternativas?
ResponderExcluirA questão não é a de que o corte de gastos é a melhor alternativa ou não. A questão é a forma como ele é feito: com a intenção de minimizar as perdas dos banqueiros e do mercado financeiro. Ou seja, se tomam medidas de austeridade pra evitar que bancos e grandes empresas quebrem mas a população que sustenta esses caras com a mão-de-obra fica sem emprego e serviços públicos. O que deveria ser mais importante pra um estadista, o povo que o elege ou as grandes corporações que financiam suas campanhas e seus partidos? Pergunta difícil.
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