segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Se Relacionando Direito
Festa de Relaçoes Internacionais e Direito organizada pelo CARI e pelo DADIT.
Distribuição de tequila para maiores de 18 anos.
Ingressos:
Masculino - 25 reais (lote 1)
Feminino -15 reais (lote 1)
Ingressos com os alunos do de RI e Direito.
terça-feira, 11 de setembro de 2012
A Somália está pronta para a democracia?
Matheus de Souza
A Somália é um país africano
completamente entregue a violência e a anarquia, um verdadeiro estado sem lei.
O país não possui um governo oficial desde que o presidente Siad Barre foi
deposto em 1991 e sua capital Mogadishu é considerada “terra de ninguém”.
Porém, em tese, essa realidade está
prestes a mudar. No mês passado, após uma semana de debates na Assembleia
Nacional Constituinte da Somália, foi aprovada uma nova constituição, marcando
o fim de uma série de administrações de transição que ocuparam o poder ao longo
das duas últimas décadas. Com a nova constituição, um novo parlamento foi
eleito nesta segunda-feira (10/09) e, o opositor Hassan Sheikh Mohamud, um
acadêmico e ativista da sociedade civil que fundou no ano passado o Partido da
Paz e Desenvolvimento, é o novo presidente do país, o primeiro em 21 anos.
O candidato da oposição obteve 190
votos, contra 79 do candidato do Governo Federal de Transição. Os deputados,
responsáveis pela escolha do novo presidente, foram nomeados no último mês por
um grupo de 135 líderes tradicionais, que representam todos os clãs do país, de
acordo com o Escritório Político da ONU para a Somália (UNPOS). Esse tipo de
representação, que é supervisionado pela ONU, substitui eleições democráticas, uma
vez que a instabilidade do país não permite a realização de um pleito aberto.
Segundo a Al Jazeera apurou, há
temores de que a eleição tenha sido fraudada. Existem alegações de compra e
venda de votos entre os deputados e, tendo em vista o histórico corrupto do
continente, isso já era de se esperar.
Mas, não entrarei nesse mérito. A ideia do artigo é discutir os diversos
desafios que o novo presidente encontrará pela frente.
O principal dos desafios é a fome, responsável
pela morte de milhares de pessoas (principalmente crianças) nos últimos anos.
Ano passado, o país teve sua pior seca dos últimos 60 anos e, apenas quando a
mídia internacional começou a difundir imagens horríveis dos somalis famintos,
é que o mundo percebeu a gravidade da situação.
Além disso, nas duas últimas
décadas o país enfrentou guerras civis, golpes de estado, gangues e milícias, fazendo
com que a Somália recebesse o título nada honroso de “país mais violento do
mundo”. Outro fator preocupante é o grupo fundamentalista islâmico Al Shabab,
que se fundiu com a Al Qaeda e controla a maior parte das regiões afetadas pela
fome na Somália.
Não bastassem todos estes problemas,
um território do país chamado Somaliland busca sua independência junto à Somália,
como aconteceu recentemente com o Sudão do Sul que se desvinculou do Sudão. De
acordo com o Secretário Geral de Somaliland, Haji Mahmoud, “no território há
paz, uma constituição própria e democracia, enquanto na Somália há guerra, terroristas,
piratas e conflitos”. Somaliland é um aspirante a país que a comunidade
internacional não reconhece, porém, o território possui seu próprio passaporte,
além de escritórios nos Estados Unidos, França e Bélgica, como aponta seu
Ministro das Relações Exteriores, Abdilahi Mohammed Duale.
Visto isso, a pergunta que fica é:
a Somália está pronta para a democracia? Para Muhdin Mohammed Ali, político
somali, ainda é cedo para responder isso. O político afirma que “antes de tudo
é necessário educar as pessoas e ensiná-las o que é democracia e o que ela
trará para o país, uma vez que a maioria dos somalis não eram nascidos quando a
constituição pós-colonial foi escrita”. Só nos resta esperar.
Texto de Matheus de Souza. Bacharel em Relações Internacionais e aluno
do MBA em Gestão de Negócios, na Unisul - Universidade do Sul de Santa
Catarina.
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Teorias “Dissidentes” nas Relações Internacionais: conteúdo normativo, explicativo e as conexões com outras disciplinas.
Felipe Alessio*
Em uma
postagem anterior procurei trabalhar os enfoques epistemológicos das “teorias
dissidentes”. Para ir além, proponho agora uma breve reflexão sobre suas: (1)
diferentes capacidades explicativas; (2) propostas normativas distintas; (3) conexões
singulares com outras teorias/enfoques/disciplinas. Sendo assim, esses tópicos
serão explorados a seguir dentro de cada perspectiva teórica.
A
teoria crítica inicia sua trajetória nas relações internacionais na década de
80, tendo como principais expositores Ashley, Cox e Linklater. Essa perspectiva
teórica procura estudar as mudanças estruturais do sistema internacionais –
formação, manutenção e transformação. Ao estudar as mudanças da ordem mundial,
Cox utiliza em sua proposta explicativa o materialismo histórico e alguns
elementos do realismo antecedente a Morgenthau. Encontramos em seus trabalhos
fortes críticas às “teorias tradicionais”, as quais são rotuladas como problem-solving. O autor nos alerta
sobre a ligação entre conhecimento e política, uma vez que não há separação
entre o sujeito e o objeto de estudo, “todo conhecimento é feito para alguém e
para algum propósito”. Neste caso, o conhecimento gerado pelas teorias problem-solving carregam interesses e
convicções que impossibilitam o surgimento de uma ordem social mais justa.
A
teoria crítica não procura apenas explicar ou descrever a sociedade, mas sim
transforma-la. Ao colocar em cheque as estruturas do sistema internacional e
sua relação com a comunidade política, a teoria crítica encontra nas exposições
de Linklater argumentos de caráter cosmopolita que melhor promoverão liberdade,
justiça e igualdade. Neste caso, a teoria critica normativa de Linklater não
tem como proposito principal a explicação dos fenômenos (causa e efeito), mas
sim avaliá-los desde o ponto de vista ético. A proposta da teoria crítica nos
faz repensar as fundações normativas da política mundial. Além de incitar o
debate sobre um mundo passível de construção, nos abre a possibilidade da
“mudança” ser de acordo com os interesses de uma futura comunidade comunicativa universal.
Maior
desconfiança perante os interesses das teorias tradicionais são levantadas pelos
acadêmicos pós-modernos. O pós-modernismo é um pensamento oposto ao projeto de
modernidade e possui influencia de outras disciplinas como a linguística e a
genealogia. Acadêmicos adeptos a este pensamento negam a possibilidade de
conhecer o mundo e teorizar sobre ele, e desconfiam dos esforços “tradicionais”
em encontrar verdades universais. Com esta postura anticientífica, o
pós-modernismo procura nas análises de textos, discursos e narrativas a
possibilidade de aproximação com o mundo. Os próprios autores deste pensamento
não admitem a probabilidade de produzir conhecimento verdadeiro, não seguem
critérios de demarcação ou metodologia rigorosa, e nem primam pela qualidade de
suas fontes, o que coloca em cheque suas capacidades em propor explicações substantivas.
A proposta normativa do pós-modernismo se concentra na valorização
da diferença e no reconhecimento e dos outros tipos de saberes. No entanto, ao
aplicarem o método de desconstrução sobre determinado significado, não procuram
desenvolver uma agenda normativa clara sobre o futuro, ou de como seria este
mundo pós-moderno. Observamos assim, que estes autores desconstroem muito e
constroem (procuram construir) pouco.
Podemos
encontrar melhor consistência explicativa e normativa nas teorias de gênero sobre
as relações internacionais, sendo que o maior destaque se dá aos trabalhos
feministas. O feminismo é um projeto politico que visa eliminar as situações de
exploração, opressão e desigualdade que imperam em nossa sociedade patriarcal.
Por ser um projeto político, está carregado de elementos normativos,
aproximando-se desta maneira de perspectivas liberais, socialistas/marxistas,
ou radicais. Neste sentido, os autores procuram em seus argumentos normativos a
superação das limitações impostas pelo uso do positivismo. Para deixar claro, o
feminismo também apresenta pluralidade em sua concepção epistemológica,
partindo de estudos mais empíricos até os que se aproximam das percepções do
pós-modernismo. As diferentes perspectivas destacadas procuram desenvolver uma
agenda complementar, fortalecendo a proposta explicativa do feminista para as
relações internacionais.
Diferente
do feminismo, a sociologia histórica é mais moderada na composição de suas
críticas ao positivismo. Por um lado, encontramos a escola de Wallerstein
(sistema-mundo) que propõe criticas assertivas sobre o positivismo, por outro
lado nos deparamos com a sociologia histórica “neo-weberiana”, muito mais
científica e “positiva”. De qualquer maneira, a sociologia histórica analisa de
maneira crítica alguns períodos específicos da história, sendo que suas
principais contribuições partem dos estudos sobre a formação do Estado-nação e
o sistema de Estados em que se organizam as relações internacionais. Além da
análise histórica e sociológica, os autores que trabalham sobre esta
perspectiva utilizam-se das disciplinas de economia, antropologia, ciência
política, entre outras. A proposta explicativa da sociologia histórica não
procura renunciar os métodos científicos, pelo contrário, seus estudos estabelecem
os mecanismos de causa e efeito que determinam a simbiose entre o Estado-nação
e o capitalismo, entre o sistema político e o sistema econômico. Sobre a
dimensão normativa, a teoria procura destacar as desigualdades existentes
através da hierarquia, na ótica da separação centro-periferia. Os autores que
expõem esta abordagem destacam um otimismo perante a possibilidade de mudanças
do sistema internacional, porém não procuram estabelecer uma proposta normativa
muito menos prever se a suposta mudança é no sentido de maior justiça ou maior
desigualdade.
O
estudo das estruturas do sistema internacional também possuem adeptos no
construtivismo. Seguindo o mesmo conteúdo interdisciplinar e com influencias da
sociologia e da história, o construtivismo é um programa de investigação
constituído sobre as carências percebidas nas “teorias tradicionais”. O
construtivismo não é uma teoria, e também não apresenta um programa de pesquisa
homogêneo, pois seus autores bebem de fontes diferentes, desde abordagens mais
racionalistas até as premissas da hermenêutica interpretativa, e por vezes
combinando explicação e interpretação. O tema central da problemática
construtivista é a mutua constituição das estruturas sociais e dos agentes nas
RI. Neste sentido as identidades e os interesses dos atores influenciam o
comportamento e o resultado das ações dos demais atores, que não estão
condicionadas somente pela estrutura (neorrealismo) ou pelos processos e
instituições (neoliberalismo). O construtivismo traz para o debate de RIs o
papel das ideias, do pensamento e dos valores, alertando sobre a
conscientização humana em questões internacionais. A comunidade epistêmica, traduzida como um grupo de “profissionais
habilitados”, seria capaz de propor novas alternativas a realidade social das
relações internacionais, num sentido de maior justiça.
Nota-se,
que todas as teorias “dissidentes” possuem claramente o elemento crítico em
suas análises, desde abordagens mais radicais (pós-modernismo) aos
questionamentos mais moderados (construtivismo). Além da crítica, as
teorias/escolas procuram dialogar e importar de outras disciplinas conceitos e
métodos que agreguem conhecimento no debate das relações internacionais. Por
possuírem temáticas distintas e muitas vezes específicas, a comparação de
conteúdo se torna tarefa complicada. No entanto, acredito que alguns pontos
importantes, como as ligações com outras disciplinas, os conteúdos explicativos
e normativos foram analisados.
* Felipe Alessio - Mestrando em Relações Internacionais - UFSC
- Bacharel em Relações Internacionais - Unisul
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Rabiscos de livros: Ciência Política
Por Murilo Medeiros.
(Análise pessoal e anotações feitas do primeiro capítulo do livro CIÊNCIA POLÍTICA, de Luiz Henrique Queriquelli e Wilson Demo)
CIÊNCIA POLÍTICA
Luiz Henrique Queriquelli
Wilson Demo
Primeiro capítulo - Partes 2
Os gregos são os inventores da política como ciência, pois a colocaram no centro da existência.
Política:
Relações;
Cooperação;
Pensar;
Sentir;
Duas formas de poder
* _________Despotismo (imposição)
Diferenças entre orador e ouvinte (que defende a ideia e que julga)
* _________Persuasão
Igualdade entre orador e ouvinte
Condição primária para esta política grega - persuasão = Razão.
Um exemplo da aversão à violência pelos gregos é a morte de Sócrates (cicuta).
Pequena Linha do tempo:
Civilização Egeia = 1600 a. C
Civilização Micênica = 1600-1200 a.C
Idade das Trevas = 1200-800 a.C
Grécia Antiga = 800-338 a.C
-Período Arcáico = 800-500 a.C
-Período Clássico = 500-338 a.C
Período Helenístico = 338-146 a.C
Período Greco-Romano = 146 a.C - 330 d.C
Liberdade e Razão: Base da vida grega.
“Para os gregos, sucumbir às paixões era o mesmo que rebaixar-se às condições de um animal irracional. O segredo da vida consistia no auto-conhecimento e no equilíbrio das próprias capacidades.” (QUERIQUELLI; DEMO, 2010, p.31)
Era uma visão humanística bem diferente da visão contemporânea. O método deve ser seguido, não em sua essência. Uma vez que alguém só é humano se for racional, e uma vez que uns são mais racionais que outros, existiu alguns no direito de escravizar seus companheiros “inferiores”. (QUERIQUELLI; DEMO, 2010, p.31)
Ou seja: Em última instância, os princípios humanistas gregos serviam apenas para dar uma base racional às instituições políticas criadas pelas elites gregas.
Consideravam inferiores:
Estrangeiros;
Escravos;
Mulheres;
Menores de certa idade;
Outras imporsições.
A Política praticada na Pólis, em uma Praça Pública, chamada de Ágora (os cidadãos gozavam de isonomia = igualdade perante à lei). Milhares de pessoas praticavam a arte política, mas nem todas podiam falar. Sobrava para os grandes líderes da Retórica (persuasão), representantes dos demais (maioria das vezes aristocratas).
*Casas de família - oikia (unidade produtiva básica) - Senhor, Mulher, Filho e Escravo
- oikos + nomos [administrar] = Economia - Administração dessa unidade produtiva básica
Ser adulto significava sair da casa de família e migrar para a ágora = liberdade, cidadania.
O poder da retórica = palavras pensadas, bem ditas. Convenciam. Ditas em praça pública ao julgamento do povo. Primeira experiência de política concreta.
Deuses:
Deuses gregos - Clique na imagem para ampliar
VER = DEUSES GREGOS E MITOLOGIA.
*SOFISTAS - Professores da retórica da época.
A busca pela primazia nos discursos levou a uma perversão desta prática. jovens aristocratas ambiciosos, instruídos professores chamados sofistas, que haviam codificado a arte da retórica, vieram a manipular a palavra conforme os seus interesses, desviando o sentido da política. [(QUERIQUELLI; DEMO, 2010, p.33) ]
A perversão da retórica estava ligada a um engano cometido pelos gregos, que nós modernos repetimos até hoje: a falsa convicção de que o mundo resulta de um plano deliberado. [(QUERIQUELLI; DEMO, 2010, p.33) ]
Nem tudo funciona da maneira que se pensa, afinal, a Política é uma Ciência Humana!
VER = Sólon e as reformas
A constituição
Para os gregos, a constituição era o material fundamental ao Estado. O governo sem constituição não possui legitimidade. Suas funções são duas:
- - delimitar o poder daqueles que detêm os cargos
- - criar um mundo previsível para os cidadãos orientar sua vida.
A constituição, não só ao Estado, mas para toda a Ciência Política, é uma peça chave.
AS CONSTITUIÇÕES CLÁSSICAS GREGAS:
Basicamente duas:
- Oligarquia (favorecia os ricos e poderosos);
- Democracia (favorecia os dois lados, mas era violenta e instável);
Sócrates e Platão foram dois críticos bem enérgicos destas duas formas de governo, tentando implantar a República como solução.
Políbio e a teoria dos ciclos recorrentes:
Pensador que criou a teoria. Segue:
Monarquia = Tirania
Tirania = Destronadas pelas Aristocracias
Aristocracias = Oligarquias
Oligarquias = Destronadas pela população que implanta a Democracia
Democracia = Instabilidade vulnerável.
Grande líder poderoso que se instala como Monarca.
RECOMEÇA O CICLO.
RECOMENDAÇÕES:
*Para quem curte a Grécia Antiga, bem como sua mitologia, segue o link de um curso online sobre o assunto no site Coursera.org e que começará dia 24 de setembro --> https://www.coursera.org/course/mythology
* Algumas curiosidades: http://philosophiagrega.no.comunidades.net/index.php?pagina=1162369566
Mapa Grécia Antiga - Clique para Ampliar
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
As relações internacionais sobre o olhar das teorias “dissidentes”: questionamentos epistemológicos
* Felipe Alessio
O campo de estudos das relações internacionais é altamente dinâmico, sendo que o próprio objeto de estudo está em constantemente
transformação, e alias, não há consenso entre os acadêmicos nem sobre qual é o objeto
de estudo das relações internacionais. Se o consenso não existe sobre o objeto
de estudo, é claro que o mesmo não se faz presente na epistemologia e metodologia
deste campo interdisciplinar. Neste sentido, a palavra que melhor caracteriza
as relações internacionais é a diversidade,
tanto em termos de concepção quanto de construção teórica.
Com
tantas abordagens, escolas e teorias diferentes nas relações internacionais,
seria um “crime” contra seus autores tentar classifica-las de maneira rigorosa.
Por outro lado, por questões organizacionais e didáticas, se faz necessário certa
divisão. Sendo assim, podemos efetuar uma distinção entre: “teorias
tradicionais” (hegemônicas) e “teorias dissidentes”. Esses dois “blocos
teóricos” não representam homogeneidade, mas sim, alguns elementos teóricos
similares. Desta maneira, tomaremos o cuidado de não “calar” os diferentes
discursos apresentados entre as teorias que se situam em cada um destes “blocos
teóricos”. Feito tal divisão, e informados sobre os riscos da mesma, podemos
dizer que as teorias mainstream
(Realismo,
Liberalismo, e suas vertentes) são do bloco das “tradicionais”, já a teoria
crítica, teorias de gênero, sociologia histórica e os pós-modernos fazem parte das
“teorias dissidentes”. Algumas perspectivas singulares, como o caso do
construtivismo e da Escola inglesa, não se faz possível aplicar tal divisão, já
que suas agendas de pesquisa perpassam a divisão anterior.
Focamos
agora nossa análise sobre as “teorias dissidentes” e suas similaridades. O
elemento mais comum entre estas teorias é a negação as “teorias tradicionais”,
em especial ao neorrealismo. Esta negação é de suma importância, pois não rejeita
somente a metodologia adotada pelas “teorias tradicionais”, mas sim a
epistemologia – a maneira de compreender, decifrar, e explicar o mundo. Neste
sentido, o elemento comum entre os “dissidentes” se torna a crítica ao
racionalismo ocidental (positivismo-empirismo), que pode ser melhor apresentada
a seguir: (1°) questiona-se a possibilidade de formular verdades objetivas e
empiricamente falseáveis sobre o mundo social; (2°) seria o conhecimento
fundamentado em bases reais? – esta dúvida é constante entre os pós-modernistas;
(3°) até que ponto a ciência é neutra, se é que a neutralidade existe. Essa
crítica ao racionalismo fez com que tais questionamentos apresentados pelas
“teorias dissidentes” fossem rotulados como “reflexivistas” por Robert Keohane.
Novamente
chamo a atenção ao grau de “reflexivismo” presente em cada “teoria dissidente”,
o qual não representa a homogeneidade do todo. Há teorias que buscam maior
ruptura com a epistemologia racionalista ocidental, como é o caso do pós-modernismo,
já outras teorias como o construtivismo, possuem algumas correntes que procuram
o dialogo e a construção de “pontes” entre as teorias “tradicionais”. Em maior
ou menor grau, o “reflexivismo” está presente na teoria crítica, no feminismo, no
pós-modernismo, na sociologia histórica e em algumas correntes do
construtivismo.
Além da
crítica comum ao racionalismo ocidental – e que ao mesmo tempo é a grande
diferença perante as teorias tradicionais, as teorias “dissidentes” apresentam
outras similaridades: (1) a metodologia utilizada é baseada em interpretações
históricas e textuais – além de uma notável interdisciplinaridade; (2) as
teorias possuem uma proposta normativa presente – que será tratado mais adiante;
(3) os fenômenos das relações internacionais são socialmente construídos,
portanto, passiveis de transformação; (4) as “teorias dissidentes” fornecem
espaço para assuntos “marginalizados” pelas teorias tradicionais; (5)
questionam a hegemonia do realismo nas relações internacionais; (6) e apontam os
limites epistemológicos e éticos das teorias tradicionais.
Feita
esta análise, fica claro que os elementos comuns ressaltados entre as “teorias
dissidentes” são em grande parte críticas as “teorias tradicionais”. Essas
críticas se fazem mais presentes após as mudanças estruturais do sistema
internacional nas décadas de 1980 e 1990, em especial o final da guerra fria.
Este período de crises e transformações permitiu maior abertura a discussões de
assuntos até então marginalizados pelas teorias hegemônicas ou tradados como low politics. Como exemplo, podemos
citar os estudos sobre movimentos de migração, o papel do gênero nas relações
internacionais, meio ambiente e desastres naturais, sociedade civil global e
representatividade, entre outros. Estes assuntos começaram a ser debatidos com
maior seriedade e repercussão, atraindo cada vez mais os acadêmicos da área de
relações internacionais. Essa “onda” crítica também é sentida no Brasil, pois é
neste mesmo período de abertura democrática (final dos anos 80) que se iniciam
maiores debates sobre a representatividade da sociedade civil nas decisões de
política externa, aflorando com intensidade a discussão politica externa versus política pública.
* Felipe Alessio - Mestrando em Relações Internacionais - UFSC
- Bacharel em Relações Internacionais - Unisul
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