Por Murilo Medeiros
Abro jornal ainda cedo. O sono cisma em prevalecer e meus olhos não estão por completo acostumados com a luz do dia. Folheio uma, duas, três páginas. Leio algo aqui, corro os olhos ali. O fato é que, algumas vezes (lê-se quase sempre), observo brutalidades no jornal. E não é apenas neste meio de comunicação. Rádio, TV, internet: Qualquer um pode, se quiser, refletir sobre as coisas banais causadas pelo bicho homem.
Manipulação do dinheiro público, estupros, quadrilhas, filha
que mata o pai, pai que estupra a filha, massacres em massa, autoritarismo,
roubo: A verdade é crua, mas ainda assim é verdade. Sábio é o velho ditado:
somos homens das cavernas presos em ternos. Não é a ética que move nossas
ações, mas sim a moral. Temos medo dos outros, medo do que vão pensar, do que
vão fazer e quais serão as consequências. Não fosse isso, certamente seríamos
animais ferozes e ávidos por inconsequência, qualidade que nos toma até mesmo
com a moralidade em jogo.
Parece incrível, – do verbo crer, que não pode ser executado –
mas milhares de anos depois, passando pelos impérios antigos, pela brutalidade
medieval e pelo renascimento das ideias, pelas revoluções e pela era da
tecnologia – ainda somos os mesmos velhos macacos repletos do extinto animal
agressivo, cuja evolução nos fez perder alguns pelos, deu-nos uma espinha ereta
e tirou-nos os membros superiores do chão. Fora isso, não consigo ver diferença
alguma entre um ser que atira contra seu próprio povo, um grande líder que
observa exterminações humanas a sua volta sem nada fazer em pró e um Australopithecus qualquer da
pré-história, balbuciando pequenos sons guturais, denotando-lhe certa, ou
total, ignorância. O nível intelectual é o mesmo, o senso ético e humano estão próximos
de números negativos.
Até quando? Nem o mais remoto profeta conseguiria responder.
Diversos foram os que tentaram – e ainda tentam – mudar a dura e bruta
realidade, mas todos, com algumas exceções, foram massacrados pelo objeto que
lutavam: o homem. Não basta querer, saber ou se lamentar para que as coisas
fiquem do jeito que devem ficar. A unidade, você mesmo, pode não ter a
expressão de um país, uma nação ou um continente, mas certamente o mundo, na
sua pequenez em meio ao universo, não mudará sem que alguém tome a iniciativa.
Ainda somos os mesmos, é certo, mas basta uma atitude ou um gesto de humanidade
para que as coisas, enfim, comecem a mudar. Basta que, além de ler o jornal, tentemos mudar a crua realidade que nele se conta. Só assim mudaremos a história.
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