Inicia-se aqui uma coluna com resumos de algumas aulas de grande relevância aos alunos do curso. Comecemos pela brilhante aula estréia do Prof. Cláudio Damasceno:
Ciência Política 1 – 03/08/2012 – Segundo Semestre
Professor Claudinho.
1 - Na primeira parte da Aula foi apresentado o conteúdo
programático da disciplina, que tem como ementa (imexível):
“A Ciência Política e os paradoxos
da política¹. Desenvolvimento histórico do pensamento político². Estado e
sociedade civil.³”
¹ - Trabalharemos os
conceitos básicos e algumas questões primordiais da disciplina.
²- Trabalharemos a
política ao longo da história, passando por Egito e Grécia Antiga, Idade Média
e o Feudalismo, Monarquias Absolutistas e a atual forma de governar em diversos
países.
³- Conceitos básicos
de cidadania e introdução ao Direito Constitucional.
Foram apresentados os Objetivos, o conteúdo programático, as
atividades orientadas e a forma de avaliação.
2 – Ao longo da aula, ideias mais específicas sobre alguns
assuntos foram surgindo e algumas questões interessantes foram levantadas.
·
Estado e
Cidadão: A relação entre Estado e Cidadão é a mesma entre um pai e um
filho. O filho requer liberdade e o pai dá as rédeas. Ao longo da história – o século
XIX é um exemplo bem revelador – podemos observar tal relação.
Mas por que o Estado existe, se
regula o mesmo homem que o criou?
Por natureza, somos bem
diferentes do que aparentamos. Precisamos um dos outros para viver em sociedade
e, por isso, devemos abrir mão de certas
“peculiaridades”. Um filhote de porco num deserto se viraria muito melhor que um filhote de homem. O bicho homem é quem leva mais tempo para desmamar e
ficar independente da mãe. Precisamos viver
em sociedade e isto requer rédeas, regras, normas para que o bem
coletivo não seja prejudicado. Por isso o homem inventou a Política e o Estado.
Quais são as peculiaridades
colocadas em questão? Mencionamos em sala as roupas, a agressividade e a
questão do sexo. Temos vontades controladas pela Moral, não pelo senso Ético.
O conjunto nos faz ser assim. Somos macacos vestidos com ternos e devemos nos
portar da forma na qual o conjunto requer. O bem individual depende do bem coletivo.
Desta forma, a política é, nada
mais, que a Ciência que o homem criou para proporcionar uma vida em sociedade,
em conjunto. O Estado é a maior criação política.
OBS: Estado (Território, Povo e Governo, estabelecido há muito, mas
juridicamente reconhecido no episódio chamado Paz de Westphália – 1648).
·
Comunismo, Capitalismo e Socialismo.
Há uma grande diferença entre
estes conceitos, mas as pessoas ainda teimam em confundi-los. Vamos às distinções:
Enquanto o Capitalismo tem como principal ponto o MEU, o Comunismo tem como principal ponto o NOSSO. Para uma coisa minha
passar a ser nossa, precisa-se de um longo salto. Para fazer esta intermediação,
eis que surgiu o Socialismo.
Capitalismo: Privatização, propriedade privada dos meios de
produção, lucro, capital, competição, tecnologia, maiores liberdades,
hierarquia, meritocracia, oposição aos socialistas.
Comunismo: Anarquia, Propriedade coletiva dos meios de produção,
igualdade incontestável, coletividade em grau absoluto.
Socialismo: Ponte entre os dois termos anteriores. Propriedade
coletiva dos meios de produção - controlados pelo Estado, o Estado é quem
difunde o Sistema, Igualdade, mesmo que contestada e coletividade, mesmo que
contestada, além de repressão aos oposicionistas e aos capitalistas.
OBS: Importante ressaltar que o Capitalismo e o Socialismo tiveram
formas distintas ao longo dos tempos e em lugares diferentes. O Capitalismo
começou na forma protecionista na Era Mercantilista, passando por uma reforma
Liberal e conservadora posteriormente. Existiu o Keynesianismo com a crise
liberal e, mais tarde ainda, o Neoliberalismo, entre outras fases. Já o Socialismo se apresentou/apresenta de
diferentes formas em Cuba, na URSS, na China, etc.. Sem falar o Socialismo
ideal (proposto por Marx) e o Socialismo Real (o que de fato aconteceu, bem
diferente do esperado).
·
Modelos
de Produção através da história:
- Comunismo Primitivo
- Servidão coletiva
- Escravismo
- Feudalismo
-
Mercantilismo (transição)
- Capitalismo
-
Socialismo (transição)
Comunismo (?)
Estaria o Socialismo morto? Com a
queda do muro de Berlin e a desintegração da URSS, tem gente que afirma
convictamente. Há controvérsias. O mercantilismo, outra fase de transição,
durou 400 anos para que se pudesse chegar no capitalismo. Por que o Socialismo acabaria
em menos de 100?
Destacamos, neste assunto, a
frase de José Saramago: “Só conseguimos
ver a ilha quando estamos fora dela”. Quem está na Crise não vê que está.
Nós não avaliamos a história. Mais
que isso, a história avalia a gente. Os futuros livros de história das escolas
depende do que nós faremos nesta geração. Podemos ser vistos de diferentes
formas se agirmos de diferentes maneiras. Salientemos que num livro de
história, 400 anos cabem em um capítulo. A história caminha dois passos e volta
um. Somos os passos para frente ou o passo para trás?
Ainda falando sobre o meio atual,
conversamos em sala sobre a forma como estamos vivendo e a forma como
iremos aparecer em tais livros de história. “A
sensação é que tudo o que é sólido se desmancha no ar”, disse Jorge Luis
Borges. Em nossos tempos, as coisas andam tão depressa que, quando começamos a
nos acostumar com algo, já não é mais. Tempo é dinheiro e dinheiro parece ser
oxigênio. Nos importamos com quantidade e esquecemos a qualidade. Comer já não
tem tanta graça, correr também não. Até as coisas bonitas parecem perder o
brilho. Precisamos de mais Utopia.
·
Utopia.
O que é Utopia? Ela se afasta
dois passos de você enquanto você se aproxima dois passos dela. Mas pra que
serve, então? Para caminhar!
Lembremos do belíssimo exemplo do
filme de Marilyn Monroe, Os Desajustados.
Último filme da carreira, contracenando com outro ator famoso da época já em
decadência.
A Utopia é o sonhar, o querer ir
adiante, ter perspectivas, fantasias alcançáveis. Precisamos disso para
sobreviver. Se nos esquecermos da utopia e estagnarmos no marasmo da mesmice,
estando todos pensando do mesmo jeito, nunca sairemos do buraco. Se há algo que
poderá nos fazer sair do tal buraco, com toda a certeza, é a Utopia. Não há
nada que dê mais força a um humano: um sonho.
Cazuza eternizou em uma
música: “Ideologia eu quero pra viver”. Na verdade, Ideologia não é o
primordial e muito menos é parecida com a utopia, mas ambas estão em falta em
nossos tempos. Analisando o trecho da folhinha dada, vemos um grande exemplo de
tais argumentos:
“A sociedade tende a aceitar uma pessoa pelo que ela pretende ser, de
sorte que um louco que finja ser um gênio sempre tem certa possibilidade de
merecer crédito, pelo menos no início. Na sociedade moderna, com sua falta de discernimento,
essa tendência é ainda maior, de modo que uma pessoa que não apenas tem certas
opiniões, mas apresenta num tom de inabalável convicção, não perde facilmente o
pretígio, não importa quantas vezes tenha sido demonstrado o seu erro” (Hannah
Arendt – 1906 - 1975).
A figura de Hitler, em vista da
época de vida da autora, é analisada. Diversas reflexões podem ser tiradas a
partir disso, entretanto, salientamos como primordial que ainda é possível, por
mais que as coisas estejam dando o passo para trás, coisas legais ainda podem
acontecer. No momento em que nos esquecermos por total desta utopia, dos sonhos
e das fantasias, a diferença entre o homem e os demais animais não existirá
mais.
Ainda sobre esta diferença entre
homem e animal, discutimos em sala que Racionalidade, por mais que se diga
tanto, não é a crucial diferença, já que utilizamos, na maioria das vezes, o
sentimento para agirmos, sendo o sentimento o contrário à razão. Uma das cruciais diferenças é a capacidade de ter
utopias.
·
E qual a
diferença entre Direita e Esquerda?
Muitos são os que dizem: Direita é quem está no poder e
esquerda é quem faz a oposição. Está errado.
Tecnicamente, a Direita política são aqueles que defendem os
direitos do Capital, enquanto a
Esquerda são aqueles que defendem os direitos do Trabalho. Mas e o tal do Centro-esquerda e Centro-direita? Estes,
por sua vez, defendem um lado mas fazem concessões ao outro. Mas e a tal da Extrema
Esquerda e Extrema Direita? Totalmente contra o outro, sendo os primeiros
extremistas e os segundos fascistas.
·
Um pouco
mais sobre política
Falando um pouco do que faremos ao longo do semestre, eis
que o livro máximo de Maquiavel é citado. Num de seus trechos, o maquiavélico
diz: Política é circunstância, Ética é convicção. Podemos ter convicção se a política depende
das circunstâncias? É certo que não. Desta forma, Ética e Política não se
batem. Daí vem a famosa frase: Os fins justificam os meios.
Em sala, analisamos os trechos seguintes e discutimos o
assunto:
“Uma sociedade justa
não é uma sociedade que adotou, de uma vez para sempre, as leis justas. Uma
sociedade justa é uma sociedade onde a questão da justiça permanece
constantemente aberta” (Cornelius Castoriades – 1922-1997).
“Justiça – força. É
justo que o justo seja seguido, é necessário que é mais forte seja seguido. A
justiça sem força é impotente; a força sem justiça é tirânica; a justiça sem
força é contestada, visto que os maus sempre existem; a força sem justiça é
acuada. Trata-se, portanto, de reuni-las e que, para fazer isto, o que é justo
seja forte ou o que é forte seja justo. A justiça está sujeita à disputa, ao
passo que a força é reconhecida pela discussão” (Blaise Pascal – 1623 -
1662).
Quando a autoridade é respeitada? Quando cumpre o que
promete. Quando a justiça é aplicada? Quando há ações firmes.
Foi salientado que não discutimos religião, já que religião
diz respeito à individualidade. Se o meu Deus é bom para mim, o que você tem a
ver? Entretanto, política tem a ver com o bem geral, portanto, precisa, sim,
ser discutida.
Desta forma, a Política, negociação para tomada de decisões,
precisa da utopia, precisa das reformas, ao passo que nossos tempos jogam as
responsabilidade políticas no ralo por qualquer dinheirinho dado. Devemos nos
concentrar mais na política. Sem ela, o que sobre é a Guerra. A batalha é o
contrário à diplomacia. Nessas negociações, perde-se para ganhar e ganha-se
para perder. No fim, os dois lados têm de se sentir satisfeitos, ao passo estes
são os principais atributos das negociações.
·
O homem e
a política
Uma das principais frases de Aristóteles é: “O homem é um animal civil, por isso,
político”.
Ser um animal diz respeito a natureza biológica humana. Já o
termo “civil”, adaptado do latim civita [cidade]
que fazia referência ao grego “precisa viver na polis”, significa exatamente
isso: Precisa se relacionar para decidir. A nossa natureza sociológica requer
isso. Viver em sociedade não é escolha, mas sim imperativo. Voltemos a nossa
questão inicial de agirmos pela Moral e não pela Ética.
Nessa vivência em sociedade, como dizia Freud: Temos dois
sentimentos apenas: A Angústia e a Frustração. Nos sentimos angustiados ao
fazer escolhas e opções. O problema das escolhas é que são sempre duas. E se a
escolha não for a certa? (Posso ir na festa, mãe? Pergunta pro teu pai! Posso
ir na festa, pai? Pergunta pra tua mãe!)O que comprar? Qual caminho seguir?
Então escolhemos, enfim, algo. E aí nos sentimos frustrados. O que seria se eu
tivesse escolhido a outra opção? Salientamos novamente a questão da
racionalidade humana contestada. Devido a isso – a frustração, buscamos uma
compensação. Uns na comida, outros nos
estudos e outros ainda no trabalho. O fato é que a natureza humana pode ser bem
mais complexa do que, de fato, pensamos ser.
Voltemos agora a outra diferença crucial entre homem e
animal: a capacidade de fazer escolhas. O animal age por extinto, nós
escolhemos, por mais que de um lado esteja a razão e do outro o sentimento.
Qual deles irá falar mais forte? Cabe a cada um dizer. Se somos julgados, é
porque poderíamos ter feito diferente.
Um cachorro não vai ao tribunal.
NUM RESUMO GERAL
Como dito
pelo próprio professor, tais ideias serão mais difundidas ao longo das próximas
aulas, servindo estes pequenos comentários apenas para “erotizar” nossas
ideias.
As regras de convívio nascem para que haja harmonia entre os
homens. O Estado é quem controla tais regras. Ou seja: criado pelos homens, mas
está acima dele. Ele serve para a política prevalecer sobre a guerra. Ele
serve, antes de tudo, para nos proteger.
Mas, proteger de quem? De nós mesmos.
Existem regras morais boas e ruins, julgadas pela ética. Sendo
que os costumes, as morais, mudam, a ética deve mudar também. Se a relação
ética-moral funciona assim, da mesma forma deve funcionar o estado na relação
liberdade-repressão. A justiça deve ser mudada também. O Estado muda conforme o
povo muda. O tempo é o verdadeiro dono do universo. A história tem a força de
fazer tudo ser como é.
E nesse jogo em que o povo quer a emancipação e o Estado o
controle, estudamos a partida. É para isso que serve a disciplina de Ciência Política.
Ótimo texto Murilo! Parabéns! Só fiquei com uma dúvida: A ética é realmente passível de mudança? Creio que não, a moral sim, varia conforme os costumes, crenças, tradições, ideais...mas acho que a ética prevalece inalterada, soberana. Só existem duas vias, o certo e o errado. A ética dita o que é certo e o que é errado, não há uma terceira via que se contrapõe a estes dois pontos. É como eu vejo, meu ponto de vista. Não posso afirmar nada, sou apenas um aluno do 2º semestre de RI haha
ResponderExcluirSe só existe o certo e o errado, matar alguém é errado, certo? E se for pela própria defesa? E se for pela sobrevivência? Matar pra comer e matar por ódio são duas coisas totalmente diferentes. Se você tivesse uma maçã para sobreviver por 20 dias e em seu colo existisse uma criança. Você comeria a maçã, deixando a criança morrer de fome ou daria à ela, sendo que se você morresse ela também morreria, ou ainda arriscaria dividir a maçã, ameaçando novamente as vidas dos dois, devido a pouco comida para o enorme tempo? Há questões e questões, então, não existem ações "boas" e "más", mas sim ações que seguem uma linha ética e as que não seguem. Em tempos passados, em algumas situações era matar ou morrer. Hoje em dia esta história não se aplica mais (não como antes). A moral se alterou, logo, a ética, em cada situação e dependendo da situação, deve analisar de uma forma única - a forma ética. Creio que o meu equívoco ocorreu pela falta de uma palavra, em vez de: "a ética deve mudar também", caberia melhor "a análise ética deve mudar também".
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